Nota

Advogado é encontrado morto após ataques racistas a juíza

A petição apresentada por Abud causou forte repercussão ao trazer ofensas de cunho racial contra a magistrada, a quem chamou de “magistrada afrodescendente com resquícios de senzala”.

Foto: Reprodução.

O advogado José Francisco Barbosa Abud (OAB/RJ 225.313) foi encontrado morto nesta segunda-feira (28/04) em sua residência. O caso, que gerou forte comoção e levanta diversas questões sobre saúde mental e os limites da liberdade de expressão no exercício da advocacia, está sob investigação da Polícia Civil, que ainda não confirmou a causa da morte.

Abud ganhou notoriedade em março após apresentar uma petição judicial repleta de ataques racistas contra a juíza Helenice Rangel Gonzaga Martins, da comarca de Campos dos Goytacazes (RJ). No documento, chamou a magistrada de “afrodescendente com resquícios de senzala” e alegou que sua decisão estaria influenciada por uma suposta “memória celular dos açoites”. As expressões geraram repúdio imediato por parte da comunidade jurídica e da sociedade civil. A Ordem dos Advogados do Brasil – seccional do Rio de Janeiro – suspendeu preventivamente o advogado e ingressou com pedido de exclusão de seus quadros. A magistrada, por sua vez, moveu ação por injúria racial contra o profissional.

No início de abril, Abud foi internado em um hospital do Rio de Janeiro após ter ingerido veneno, em um episódio tratado como possível tentativa de suicídio. Desde então, havia se recolhido em sua residência, onde foi encontrado morto semanas depois.

A OAB de Campos dos Goytacazes emitiu nota de pesar, lamentando o falecimento e prestando solidariedade à família. Apesar da gravidade dos atos cometidos pelo advogado, representantes da entidade destacaram a importância de tratar com seriedade os casos que envolvem transtornos mentais, especialmente em situações de pressão pública intensa.

O episódio reacende o debate sobre os limites éticos no exercício da advocacia, a responsabilidade dos profissionais no trato com magistrados e colegas, e a necessidade de acolhimento psicológico adequado nos momentos de crise. A polícia civil investiga o caso.