Nota | Internacional

Racha no G20 Sobre Ucrânia é Desafio Para Brasil no Comando do Bloco

Disputas entre G7 e a aliança entre Rússia e China dividem o grupo das maiores economias do mundo e devem persistir mesmo que a guerra na Ucrânia chegue ao fim durante a liderança brasileira, em 2024

Rony Torres

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Disputas entre G7 e a aliança entre Rússia e China dividem o grupo das maiores economias do mundo e devem persistir mesmo que a guerra na Ucrânia chegue ao fim durante a liderança brasileira, em 2024

Em setembro de 2023, o mundo voltou seus olhos para a Cúpula de Líderes do G20, realizada em Nova Delhi, Índia. Neste evento de destaque na agenda internacional, as maiores economias do planeta buscavam resolver um impasse que já havia corroído as bases do grupo: a guerra na Ucrânia. Esse racha, que se desenvolveu ao longo dos anos, agora se transforma em um desafio diplomático significativo para o Brasil, que assumirá a presidência do G20 em 2024.

Na Cúpula de Líderes do G20 em Nova Delhi, as tensões ficaram evidentes. De um lado, o G7, composto por grandes democracias liberais, liderado pelos Estados Unidos, defendia veementemente a imposição de novas sanções e condenações contra a Rússia. Por outro lado, a aliança entre a Rússia e a China bloqueava qualquer discussão nesse sentido, com o apoio cada vez mais entusiasmado de Pequim.

Essa divisão já havia causado estragos na reunião anterior, em Bali, Indonésia, onde os países não conseguiram chegar a um consenso, impedindo até mesmo a tradicional foto conjunta dos líderes. O mesmo cenário ameaçava se repetir em Nova Delhi.

Vladimir Putin, presidente da Rússia, se recusou a comparecer ao evento, mesmo sem o risco de ser preso, uma vez que a Índia não reconhece o Tribunal Penal Internacional (TPI) que emitiu um mandado de prisão contra ele por crimes de guerra. O ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, declarou que vetaria qualquer comunicado conjunto que não atendesse às demandas do Kremlin. Se isso se concretizasse, essa seria a segunda cúpula consecutiva sem um documento oficial final.

Além disso, o presidente chinês, Xi Jinping, não havia confirmado totalmente sua presença, o que tirava parte do prestígio da anfitriã Índia.

O Brasil, que assumirá a presidência do G20 em 2024, enfrentará os reflexos das divisões exacerbadas pela guerra na Ucrânia, que devem persistir mesmo após o conflito ser resolvido. Essas divisões, com suas raízes profundas, ameaçam comprometer parte das iniciativas diplomáticas brasileiras durante sua liderança.

A liderança do G20 dá ao país anfitrião um grande protagonismo no cenário geopolítico, com a oportunidade de propor discussões e soluções para questões cruciais em sua agenda diplomática. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já definiu três prioridades para a liderança brasileira: o combate às desigualdades globais, a luta contra as mudanças climáticas e a defesa de reformas nos sistemas de governança global, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização das Nações Unidas (ONU).

No entanto, a complexidade e a responsabilidade adicional que a divisão do G20 e o conflito na Ucrânia imporão à presidência brasileira não podem ser ignoradas. A guerra na Ucrânia distorce a agenda do G20, já que as tensões geopolíticas acabam se infiltrando em discussões sobre temas vitais para o mundo, como desigualdades sociais, mudanças climáticas e reformas institucionais.

Um embaixador brasileiro destacou que a guerra tem uma dinâmica própria, e a presidência do G20 teria pouca influência direta na resolução do conflito. No entanto, outro diplomata expressou um vislumbre de otimismo, sugerindo que o Brasil poderia aproveitar a oportunidade para diminuir as diferenças entre os países membros, se o conflito na Ucrânia estiver próximo de uma resolução. O Brasil, com boas relações com todos os membros do G20, poderia desempenhar um papel construtivo na busca de consensos.

Em resumo, o racha no G20 em relação à Ucrânia cria um desafio significativo para o Brasil, que assumirá a presidência do grupo em 2024. Enquanto o mundo observa as disputas entre as grandes potências, o Brasil terá que navegar em águas turbulentas para cumprir suas prioridades e promover a unidade no G20. O desfecho desse desafio diplomático dependerá, em grande parte, do desenrolar do conflito ucraniano e da habilidade do Brasil em mediar as divergências entre as nações do G20.

RONY DE ABREU TORRES

Rony Torres é graduado em Direito pelo Centro Universitário Santo Agostinho. Advogado, Pesquisador do Tribunal Penal Internacional, Diretor jurídico do grupo Eugênio, Especialista em direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela Faculdade Damásio de Jesus, Pós graduado em Direito Constitucional e administrativo pela Escola Superior de Advocacia do PI, Especialista em Direito Internacional pela UNIAMERICA, pós-graduado em Direito Penal e Processo Penal pela ESA-PI, graduando em advocacia trabalhista e previdenciária pela ESA-MA