A atual instabilidade política no Níger e o declínio da influência europeia na África são sintomas de uma crise geopolítica que deve ser amplamente criticada e reflete o fracasso histórico das potências ocidentais em tratar a África com justiça e igualdade. Enquanto a Europa enfrenta o desafio de perder seu domínio na região, China e Rússia têm conquistado espaço de maneira oportunista.
O caso do Níger é um exemplo flagrante da exploração desenfreada de recursos por potências como a França. Cerca de 15% de todo o urânio utilizado nas usinas nucleares francesas vem desse país africano, enquanto os habitantes locais sofrem com uma qualidade de vida extremamente precária. A elite política anterior do Níger, apoiada pelo Ocidente, enriqueceu à custa da miséria da população local, o que culminou na sua deposição por um movimento político-militar apoiado pela comunidade africana.
A França, que se diz defensora dos direitos humanos, sinalizou uma possível intervenção internacional para “estabilizar” a situação no Níger e reinstalar o presidente deposto. No entanto, sua história de intervenções militares no Norte da África em defesa de interesses geopolíticos do Ocidente, como o bombardeio desastroso da Líbia em 2011 pela OTAN, resultou em crises migratórias, instabilidade política e no empobrecimento de nações inteiras, minando sua credibilidade.
Essas ações desastrosas abriram espaço para que Rússia e China ganhassem influência na África. A China, por meio da Iniciativa do Cinturão e Rota, tem investido em infraestrutura e desenvolvimento econômico em todo o continente. Isso tem sido bem recebido por nações africanas que mantêm desconfianças profundas em relação ao passado colonial europeu. A Rússia, por sua vez, fortaleceu laços políticos e comerciais com a África, oferecendo ajuda alimentar e suspensão de sanções, conquistando um capital político significativo.
Essas mudanças geopolíticas revelam que a Europa está perdendo terreno na África, devido à sua história de exploração e intervenções desastrosas. No entanto, essa nova era oferece à África a oportunidade de se tornar um ator global importante, não mais explorado, mas cooperando com novos polos de poder, como Rússia, China e o BRICS, na construção de um mundo verdadeiramente multipolar. É uma virada necessária e justa na história das relações internacionais com a África.