A Arquidiocese de São Paulo emitiu uma nota nesta quinta-feira (4) expressando surpresa diante da tentativa de instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o Padre Júlio Lancellotti.
No mês passado, foi apresentado à Câmara Municipal de São Paulo um pedido para investigar organizações não governamentais atuantes na região conhecida como Cracolândia, local que reúne pessoas em situação de rua e com problemas relacionados ao uso de drogas no centro da capital.
Embora o coordenador da Pastoral do Povo de Rua não tenha sido mencionado diretamente no pedido de CPI, o vereador responsável pela solicitação, Rubinho Nunes (União), declarou em várias ocasiões, inclusive em redes sociais, que Lancellotti é o foco principal da investigação. Nunes também afirmou que pretende direcionar a investigação ao movimento A Craco Resiste.
Ação em Ano Eleitoral
Em 2020, quando era candidato a vereador, Nunes solicitou ao Ministério Público de São Paulo a abertura de uma investigação contra A Craco Resiste, alegando que a organização favorecia o consumo de drogas. No entanto, a investigação policial subsequente foi arquivada por falta de irregularidades.
A Arquidiocese de São Paulo, na nota, questiona a coincidência da ação de Nunes, um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL), ocorrer em ano de eleições municipais. A nota indaga sobre os motivos para promover uma CPI contra um sacerdote que trabalha com pessoas carentes no início de um ano eleitoral.
Reação e Repercussão
Em resposta ao pedido de Nunes, a vereadora Silvia da Bancada Feminista (PSOL) solicitou uma investigação sobre o aumento da população em situação de rua na capital paulista e as políticas públicas para atender a essas pessoas. Contudo, o requerimento ainda não atingiu o número mínimo de assinaturas para ser protocolado.
O Padre Júlio Lancellotti, por meio de nota, reconheceu a legitimidade das CPIs, mas esclareceu que não está vinculado a nenhuma organização que mantenha convênio com o Poder Público Municipal. O movimento A Craco Resiste também destacou não ser uma ONG, mas um projeto de resistência contra a opressão na Cracolândia.
Nas redes sociais, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, manifestou solidariedade ao Padre Júlio, enquanto a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, classificou a proposta de CPI como uma distorção de prioridades e senso de justiça, questionando a sociedade sobre seus rumos diante do compromisso social e do combate à pobreza.
Fonte: Amo Direito.